CAMARADA
por onde andam as minhas primaveras de setembro?
é tarde,
tenho silêncio
e guardo inveja da mudez...
[dêem-me com urgência um aparelho de barba!]
como pode um desafinador de canções
falar,
agora, aos sabiás?
[mudei]
pintaram os band-aids
e...
eu, à procura das minhas primaveras de setembro!...
[pirei]
não, elas não estão guardadas naquele armário antigo
do quarto, onde tardes vermelhas eu via
[minha miopia deve ter evoluído mais de dois graus]
mais óculos fundo-de-garrafa
[urgente!]
preciso enxergar a foto da nudez de BB para Charles de Gaulle!...
[a “Fatos & Fotos” não mais existe?]
onde estão, enfim, os setembros?
para onde se mudaram?...
[mudei?]
na minha cabeça, uma gaveta não pára de ir-e-vir,
a se abrir e a se fechar,
lentamente;
dela, centopéias, elefantes e ursos-polares transbordam naturalmente
[já se exibem centopéias nos jardins zoológicos?]
bananas pros macacos!
[de pé, ó vitimas da fome!]
tenho saudades da minha ingenuidade:
da ingenuidade das minhas primaveras de setembro
[mudei]
preciso ir à praia,
me masturbar freneticamente,
e, embora feia, ter uma mulher para minha namorada
[a minha mãe não mais bate à porta do banheiro]
quero voltar a beber do leite materno
e, de vez, tornar-me feto:
quem sabe, assim, não desaprenderei o Hino da Internacional Comunista?