A Dor
Num momento em que o sorriso foi-se fatal
Queria ser tua dor para que me sentisses
Para que latejasses também em mim
Ao sentir que, mutuamente, alimentávamo-nos
Instalamo-nos, feridas, arduamente dilaceradas
Por vermes que desconhecíamos
Foi quando quis cicatrizar,
Não mais gemer e não mais doer
Com o tempo depois de tanto sangrar, entendi
Que em carne viva pulsava eu, vermelha, em ti
E era assim a forma muda de teu olhar
A contemplar-me de vazio e dor
E quando um dia quiseste-me extirpar
Éramos já casca e ferida
E ao arrancar-me doeu mais em ti que em mim