Desengano

Já não saio mais para ver a lua,
que hoje estava cheia e nasceu tão linda!
Não mais vejo graça no canto dos pássaros;
o perfume estonteante do jasmim
já não me seduz...

Perdi a vontade de olhar as estrelas,
nas noites de frio, nos céus de maio
e, se alguma me atrai, pisca pra mim,
nem por isso eu penso em fazer um pedido:
―Olho para outro lado.

Não faço planos de férias à beira-mar,
de alimentar sonhos,
construir castelos na areia;
de fazer longas caminhadas sob a chuva,
simplesmente porque amo a água...

Nada disso me interessa mais,
nem mesmo o cheiro do bosque de eucaliptos
ou a espuma branca das cachoeiras.
A neblina das manhãs nos vales
deixou de encantar-me.

Encolhi, tecendo em volta meu casulo;
espero acordar borboleta
e, quem sabe, apaixonar-me.



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