A PORTA
A VIDA é uma porta de entrar
A saída, como fuga, é o mar
que entre seus ventres acolhe
vários braços a chorar
tão necessário quanto ao Nilo
que ao seu derramar dá a vida.
Desta feita, embaixo do Sol
que a tudo vê a seu tempo
enquanto segue o seu curso:
Ao ano, divide os dias;
nos dias, repousa o sono.
Ao sono passeia a luz.
Da vida, a porta encerra
o frágil cair da cortina.
É tão leve que não atina
o leve roçar do vento.
O vento que nas manhãs de outono
arranca as folhas das telhas.
E, depois da porta
perde-se o cheiro do mato:
verde e virgem.
Perde-se o sabor da fresca fruta:
virgem e pura.
Chora-se na tristeza de chegar:
rara e abrupta.
Pensa-se mil momentos.
Traça-se mil façanhas.
Lembra-se um lembrar.
Se nem isso for a contento,
constrói-se uma nova porta.
21-07-1991