A PENUMBRA DA MINHA SOLIDÃO
Contorno os lábios provando-os,
Como se buscasse um vestígio qualquer
Das palavras tantas vezes pronunciadas.
Apenas encontro o silêncio.
Uma ausência dolorida de sons,
Tal qual uma estrada, que aguarda passos que jamais virão.
Os olhos, mesmo pousados sobre a paisagem do real,
Ainda insistem em vaguear pelos caminhos de outrora.
Parece agora distante aquele sentimento, jamais vivenciado.
Engulo em seco, a sensação que me enche as mãos de vazios.
Tento distrair a saudade que parece desejar-me como companhia.
O cair da noite finda por me trazer as lembranças que tanto evito.
Cerro os olhos, querendo desprender-me das imagens
Que me visitam todos os sentidos.
Inútil procurar desvencilhar-me, do que respiro e alimenta-se em mim.
Acaricio o rosto. Sinto as mãos arderem.
Parece que o tempo indiferente as digitais dos carinhos
Que ainda agora me suscitavam suspiros.
Cada parte do meu corpo, responde à saudade,
Que deixa sempre a mercê, do que se fez sonho e amarga fantasia.
Deixo os olhares percorrerem os corredores da memória.
Um sorriso beija a boca, enquanto encosto o rosto à solidão do lembrar.
Muitas vezes, já havia me prometido não mais permitir
Que ninguém invadisse meus pensamentos ou lhe tirasse a quietude. Mas com o amor não existe hora combinada, pedido de licença, Juramento ou ameaça de despejo.
Ele possui passaporte e transita viandante
Em todos os estados do corpo, da alma,
Deixando pegadas, fotografando sensações,
Emudecimentos, arrepios e tremores.
Tento ignorar a sede que me umedece o corpo.
Há um gosto de beijo acordando-me os lábios
E abraços a rondar o leito dos meus braços.
Ouço o som de uma carícia, como a buscar o colo de minhas mãos.
Meus olhos despiram uma lágrima,
Enquanto tratava de cobrir a emoção com o sono.
Dobro todas as palavras que desejavam ser confissão.
No colchão do silêncio deito o amor,
Já amarrotado por tanta indiferença e espera.
Pelas mãos da noite, vejo ser desenhada a penumbra da minha solidão.