Toma-me, sou da noite

Noite chega e me enlaça,

sozinho sob o olhar da lua,

aqui vou ficar, serei caça,

qual a criança que amua

grita, chora e faz pirraça

tateando no escuro da rua,

em nada ela acha graça.

Na água refletida a tua

quase imagem, escassa

recorda-me do teu corpo,

da prisão de teus abraços,

como o alpinista do topo

para dar os últimos passos.

Ter teu amor é escalada

duma montanha de prazer

que vem me toma, tonteia,

transforma-me em novo ser.

Vai-se a treva, já clareia,

sol queimará qual açoite,

proteja-me sob tua teia.

Toma-me, sou da noite.