Lúcido na cidade louca

Estou só

Lúcido na cidade em névoa

Meus olhos choram

E pedem luz

Estou acordado em vôo

E a cidade dorme inquieta

A minha pele em febre

Eriça pêlos

A quem apelo?

Se a cidade louca acorda

Movimenta-se toda

E vem em minha direção

Onde aperto, onde fica o Stop?

Dores despertam

Ligam-se os motores

Aumenta-se o volume

E tudo grita

Esperneia

Ronca a fome nas esquinas

Crianças entocam-se nas escolas

Bebes choram

Calam-se os cães

A cidade não mais os escutariam

Tudo se arma

Soldados se guardam

Escadas rolantes

Shoppings

As filas

As latas de gente curvam-se nas ruas

O rio Tietê segue lento

No seu vagar de metais e merda

Estou só

Sóbrio na cidade ébria

O que faço:

Poesia, música. Mudo?