AQUELA TARDE FINDOU, MAS...

para L.C

"gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;

e gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse[...]

o que for, quando for, é que será o que é"

(Fernando Pessoa)

A praça nos contemplando

E uma ave solitária voando só...

As flores voando inocentes

E sem saber o que faziam,

Tinham inveja do nosso toque,

Do nosso beijo,

Do nosso riso

E da nossa raiva

Em saber que tudo aquilo que vivíamos e tudo aquilo

Sentíamos, haveria de findar...

E findou...

Morreu!

A tarde escureceu,

A flor murchou...

O pássaro pousou num galho seco,

Eu vi sua patinha aleijada,

Mas o que importa?

Aves precisam de asas!

Como havia dito,

Toda aquela emoção findou, findou sim...

Mas ficou a saudade!

A flor, sem pétalas, derramou suas lágrimas

E o seu pólen caiu sorrindo na terra fértil.

O pássaro voou e não mais o vi,

Mas vi o ninho que me acolhia os braços...

... E eram teus braços, o teu colo

E o calor da tua pele!

Findou, acabou... já não há mais aquela tarde,

Aquela flor,

Nem aquele pássaro,

Como aqui mais uma vez ressalto.

Aquilo não há mais,

Pois naquele dia,

Aquele presente era o nosso presente,

Ou seja,

Adormeceu-se o ontem,

E, portanto, o amanhã haverá de vir,

Outras tardes virão,

Passarelas de pássaros irão cantar para nós...

E aquela flor que murchou,

Dane-se!...

... No nosso novo cenário,

Há um flamboyant espiando nosso toque,

Nosso beijo

E o nosso riso!

Já não há mais raiva apesar de haver saudades,

Pois já hoje, o nosso agora e o nosso presente,

Só se preocupam com o dia de amanhã;

O amargo sabor do ontem que se foi,

Mas com a esperança e o desejo de tê-la dormente

Nas outras tardes que escurecerão fazendo-se noite

E raiando-se dia após dia sem o medo da dor de perdê-la!

O nosso presente transa,

Mas é no futuro que o seu orgasmo tem prazer...

... O nosso amor se ama vinte e cinco horas por dia!