Não desisti, não

Se eu olhar o seu olhar

Ele vai me devorar, deveras

Mas não vou deixar, vou fechar a porta

E ser livre aqui dentro

Trancada do mundo solto lá fora.

Todas as flechas hão de bater na parede

E quebrar a ponta

E cair no chão

Murchas

Desfalecidas e frustradas

Antes de envenenarem meu coração

Com suas doses letais de vida real

Com aquelas gotas de soro antiamorídico

Que dão suadouro à noite

E mantêm os olhos distantes durante o dia

Desacordados

Desesperados

Desesperançosos.

Desse ranço já experimentei uma vez.

Ele ainda amarga a língua.

Alarga uma lembrança que já quase evaporou,

mas que deixou manchas que não saem mais.

Dizem que quando caírem as folhas do pessegueiro,

terei minha roupa de volta, como nova.

Mas depois de virar pano de chão

Não há camisa que sobreviva.

Trancada aqui dentro, livre, posso tecer minha nova trama.