O LUXO DO LIXO
Mal anoitece, brotam do nada e aos montes aparecem
Carros improvisados amiúdam-se em olhares amedrontados
Em idades variadas espalham-se em nova e árdua jornada
E de imediato iniciam a coleta, em prédios, os mais altos
"O rico produz o risco onde só os pobres trabalham o lixo!"
Mãos sujas, imundos, sem luvas, em miséria absoluta
Em preto fúnebre, rasgam no ato o plástico do tal saco
Jogados no chão, criteriosos, o ganha-pão selecionam
Eles vêm lá do Nordeste, da Baixada, do Areal, Boqueirão
Vão à luta, correm atrás, não ficam por um Deus a esperar
E quando questionados, risonhos e suados, ficam a exclamar:
– Se não cuida bem de mim um Deus, antes me cuido eu!
Entre sonhos adiados e depois de muitos planos malogrados
Empurram os carrinhos, já abarrotados, abrindo caminho
Ordeiros, impregnados de fétido cheiro, cruzam as ruas
Entre passeios atalham e seguem resignados, para a cafua