VIBRATO
É mais complicado que tudo isso...
Mais que apenas o olho, ser o vento,
o cisco, a lágrima,
o sal no trilho aberto em selvas de barba...
Mais que apenas as mãos em gestos,
pontuando formas e sentires de momentos
escritos em entardeceres boreais, perpetuando-se...
ser as carícias táteis, buscando ainda,
talvez para sempre, os cálidos vestígios da intimidade única,
do instante insubstituível da chegada.
Mais que toques transacionais, gentis, contando histórias
onde as palavras são apenas artifícios evocando brilhos escuros
nos olhares, doutra forma esquecidos de si.
Preciso ser mais. Sempre precisei ser mais.
Tenho de ser a sílaba,
que encontras e reconheces entre palavras tuas.
A pausa que antecipa o sorriso por acontecer,
quando me tornas teu.
O tom colorido, na frase monocórdica,
com que me retomas ao desinteresse
com que me perdi no teu olhar...
Preciso ser mais,
por isso nunca serei completamente teu,
nem meu...
Por isso nunca haverá nada
que eu possa ser completamente.
Nem sequer apenas um pedaço de mim.
Maio/2010