Algo além de tempo perdido

De vários medos sou o dono,

Também senhor de incontáveis vergonhas,

O grande rei manco, da horda de bastardos,

Feitor da lâmina, e pai do sangue.

Do falso orgulho que pensei desfrutar

Fiz o abrigo, onde mais mentiras me consolam,

Da chuva, trovão e raio

Fiz minha rainha, cega e santificada

Pelos que habitam o deserto obsoleto,

Que n’algum tempo esquecido fora chamado de homem,

Com a única certeza que todos temos,

Fiz um altar, íntimo e secreto,

Das lascas que me compunham,

Fiz lacunas impreenchíveis,

Fiz rios secos e inóspitos,

Fiz os vermes de minha carne,

Depois chorei,

Quando eu vi uma trêmula sombra,

Sozinha e fraca,

No terreno aos meus pés.