DEFINIÇÃO // CURA
DEFINIÇÃO [Bastos Tigre]
Amor é mal e é mal que não tem cura;
Mas, sendo mal, sofrê-lo nos faz bem.
Chora o amante, se o amor lhe dá ventura
E ri da dor, se dele, a dor lhe vem.
O amor é vida e leva à sepultura;
É doce filtro, o amor, e fel contém;
É luz e faz viver em noite escura,
Tonto, a tatear, o alguém que ama outro alguém.
Apesar de cego o amor, vê o invisível;
Por firme que se mostre, é sempre vário;
É Deus e faz, de um santo, um pecador.
Inerme e fraco, é força irresistível;
Sendo, pois, a si mesmo tão contrário,
Quem é que pode definir o amor?...
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CURA
Não mesmo pela beleza intensíssima de um rosto, pela profundidade do olhar, nem pelos traços que falam mais que poemas. Não pela boca expressiva, delineada em perfeição formal de preciosas rimas.
Sim, pela especialidade, pela luz que emana desta fisionomia que parece mais o Fiat Lux.
Sim, pelo divino toque em um rosto humano, agora, sim, vejo que existe!
Sim, porque é anjo mesmo e disto não tem consciência.
Sim, pela absoluta inocência do mais raro e delicado pássaro.
Sim, por lembrar a feição que imaginamos ter o Nazareno.
Não! Alguém assim não cabe do Mundo em todo o terreno.
Sequer no apogeu dos astros.
Sim, porque tu tens no semblante o halo e a solidão da lua.
O que digo é lógica e razão da mais pura.
E peço aos ceus para este mal a me corroer, a cura.