FOTOGRAFIA DO IRREAL

Será nestes olhos de gato

De insondável mistério

Nesta carne de intraduzível cor

De pupilas profundas

E de sonhos de amor

Que me vês

?

Será nessa imensidão de um mar desconhecido

Que a minha sombra passeia

?

Não

Que faço eu aí

Que fazes tu aqui

Que orações caminham no desenho dessas sobrancelhas

Que vieram fazer no meu ser

?

Este nariz se movimenta em suspiros

?

Mal posso acreditar

E foi nesta boca de barquinho que um dia meus beijos ousei navegar

?

E teria sido nestes cabelos que desejei

Os meus dedos entranhar

?

Há neste rosto algo de anjo e de menino

De inocência e desatino

A própria luz do sol

Que me vai cegar

Eu prefiro a morte

A em um sonho proibido

De anjo assim

Poder tocar