Canto Duplo

Olhos olhos olhos,

são cegos os que te vêem?

sedes teus, minha querida

esses olhos que achei lânguidos

postos em canto a prantear?

vai, vai agora a deleitar-te

se não vedes que esses teus olhos

são dardos mornos em poesia pobre

sonetos furados e rimas coxas

caia-se na embriaguez ao banquete da corte

e espera o dia nascer branco, brando.

Vai menina, apressa-te a esconde-los

que na terra de porcos cegos

falta luz na casa do rei

se há tanto tempo

não há mais tempo a perder

guarda a faca e vai-te à janela

e de lá verá

aos uns que virão.

Aos passos errantes

de vidas constantes

em mero instante

ao longe no mar

estarão os vagantes

no mais retirantes

que um pouco adiante

virão a rimar.

Pois certa esteja

se na vida os almeja

não menos deseja

não venha a falhar

se é apenas um dia

que te falta alegria

à noite virá a vagar.

E se canto outra poesia

a mais nova e perene heresia

só agora vês agonia

e esta te foge à mão

não tente outro riso

não é mais que um aviso

se beijas o piso

é porque fostes ao chão.

Daniel Palatnik
Enviado por Daniel Palatnik em 28/08/2006
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