.carta.
vou escrever para te contar o que se passa comigo.
não é algo poético ou inédito.
nem, tampouco, algo de que possa me orgulhar.
certa noite, em meus sonhos, até quis te matar.
tentativa errada de te esquecer.
acontece que na vida aprendi essas saídas covardes.
e as vezes, quando me vejo desse jeito, acredito que nada vai fazer passar.
nem sei porque escrevo isso agora.
- na verdade, acho que sei.
mas, como o fingir cai bem em quase todas as horas.
cá me encontro negando tim-tim por tim-tim.
- acredita que ando tomando café aos montes?
eu que dizia que amarelava os dentes.
pois é.
e passei a ler salinger duas vezes ao ano.
metas estranhas essas minhas.
quis aprender xadrez.
- o cavalo anda em 'ele', não é?
veja só.
sinto uma falta danada daquele som enferrujado do teu violão.
deve ser por isso que hoje quase tenho raiva do dylan.
culpa dele é que não é.
culpa tua também não.
mas, não consigo culpar somente a mim.
e, na maioria das vezes, nem a mim tenho conseguido.
acho que não há mesmo a quem culpar.
foi circunstância.
foi desvario.
foi uma imprudência charmosa.
tentação com ponto final.
mas, não foi amor.
amor não foi, não.
foi melhor.
ana maria de queiroz
01.VI.2009