"COMO QUEM SE ESVAI DE SI"
Beber instantes de plenitude
aspirar o perfume das madrugadas
estremecer de amor, sem medo;
errar por pensamentos vadios...
Vai lá que a rua é toda tua!
Vai e te embebeda de lua
entrega a alma ao demônio
da insensata cartada
e joga pra valer, sem blefar
desvia o corpo desse laço
que te prende!
Por que não falar?
Por que não calar?
Te perdes na contradição
que engendras como escudo.
Habitas tuas palavras e te tornas
refém das tuas peias.
Mas é urgente viver, é urgente
se esborrachar no chão das oportunidades
pular do décimo andar dessa modorra
que chamas de vida e sangrar
até que o chão esteja vermelho
da tua ousadia e paixão!
Sangrar, sim, sangrar tudo,
"Como quem se esvai de si" !
E então pertencer-se
até a útlima gota,
não deixar nenhuma sobra
no prato das possibilidades,
lamber os dedos de vida vivida,
e depois, lasso e terno,
dormir a sesta na calmaria
de um mar dominado,
barco a balançar sobre águas
vertigem boa de sentir
expectativa de se pôr ao largo
outra vez...
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