ALTER EGO

O meu eu onde se esconde?
                                 Onde? Onde?
Estará escondido na mata
contemplando a aurora nascente,
ou, acaso, se esconde
nas penas daquela coruja
cega, muda, esperançada
aguardando que a noite a liberte?

Já desceu a neblina invisível,
tênue máscara que o tempo reveste,
mas meus braços atados, cansados,
mal têm forças para levantar.

Brilha, às vezes, uma luz em surdina
longe, longe, além da campina
quietamente num silêncio sem peso.

Tenho medo de errar o caminho,
de ficar sem ninguém, mais sozinho.
Tenho medo de ir procurá-lo,
tenho medo de não encontrá-lo...
o meu eu, que me foge e se esconde.
                                                Onde? Onde?

                          . . .

Onde? Onde?
Posso eu me encontrar,
sem beirais pra recostar,
sem passos a desfilar.
Onde? Onde?
Abandonei minhas forças,
meus joelhos dobrados,
coração apertado
neste medo enfadonho,
sem a antiga coragem
de novos caminhos arriscar.
Tudo me parece medonho,
na noite me afasto dos sonhos,
quem sou eu neste regaço
que não consigo descansar.
Onde? Onde?... 
                               Cássia da Rovare