Escrever não dói

Escrever não dói.
Escrever faz parte.
Mesmo que não seja arte.
Pode ser tão somente um desabafo,
quiçá um protesto.
Pode ser também devaneio
ou um mero passeio
pelo texto alheio.

Mas sempre me atrevo
a lidar com as palavras,
a fazer das letras
uma salada degustável.

E em alguns momentos
sou até pretensiosa:
cativo leitores,
troco senhas,
reinvento esperanças
e refaço amores.

Sempre quando sinto a tempestade passar
e o tempo da bonança se avizinha,
ali,
do nicho onde guardei meus sonhos
ainda pequenos,
retiro meus versos
incertos
muitas vezes,
e em outras,
eles surgem tão afoitos,
brotam espontaneamente
como a dizer em tom
quase solene:
Uma emoção guardada
está ainda mais viva,
uma vez que foi tecida
com os fios de ouro da ilusão
e do desejo.

Então
repentinamente,
quando o coração desassossega
e a razão cochila de cansaço,
eu me refaço nos meus versos
e me devolvo ao melhor de mim.