Ausência

o sol ensina o único caminho

a voz da memória irrompe lodosa

ainda não partimos e já tudo esquecemos

caminhamos envoltos num alvéolo de ouro fosforecente

os corpos diluem-se na delicada pele das pedras

falam os rios deste regresso e pelas margens ressoam passos

os poços onde nos debruçamos aproximam-se perigosamente

da ausência e da sede procuramos os rostos na água

conseguimos não esquecer a fome que nos isolou

de oásis em oásis.

hoje

é o sangue branco das cobras que perpetua o lugar

o peso de súbitas cassiopeias nos olhos

quando o veludo da noite vem roer a pouco e pouco a planície.

caminhamos ainda

sabemos que deixou de haver tempo para nos olharmos

a fuga só é possível para dentro dos fragmentados corpos

e um dia...quem sabe?

chegaremos

Cleah
Enviado por Cleah em 12/05/2010
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