Velório...
Calo-me diante do finito que é viver.
Tão frágil e tão ágil o ser.
Muda diante do fato,
Tão certo e tão fatal,
Esperado, que no inesperado faz morada...
E do nada, vêem e se apossa do tudo que respira e existe.
E quando chega,
Deixa o seu rastro de dor na perda de um amor...
Homem, mulher, filho, amigo, qualquer...
Amor que se vai, se esvai...
Como a chama apaga do olhar!
E por vezes, fica enraizado no coração,
Uma saudade mal resolvida, tantas coisas não ditas...
Sempre falta um carinho, um beijo, um talvez...
A tristeza superando a surpresa,
E do peito se abanca a certeza,
Do não poder mais dizer, fazer...
Do finito, conhecido, mais esquecido,
Adormecido no inconsciente,
No velório despertos...E como um filme vêem a mente...
Os gestos, atos desconexos, sorrisos presos no passado
Nunca dados...Lágrimas que poderiam não existir,
E um “eu te amo”, preso na garganta...
Desenterrados pela verdade, tão a mostra
A morte é coisa certa.
Única certeza da vida...
Há uma sabedoria explicita num velório,
__Todos estamos nivelados__
E a reflexão toma conta do ambiente fúnebre,
Como a alegria em uma festa,
A Segunda tem a diáfana certeza do belo,
A primeira, traz a autenticidade do momento,
A dor, a falta, as falhas, saudades...
A morte... Ela dita a regra básica da vida,
A de um dia deixar de existir.
Simples assim...
Se no coração uma crença perdura,
O paraíso ou inferno faz jús a quem vai,
E alerta aos que ficam!
Se o sonho do retorno é fugaz,
Mais fugaz ainda é o viver!
Pois o passado não volta,
O futuro, esse pode não vir a existir...
E por isso, torna-se emergêncial,
Vivermos intensamente o presente.
Com amor, lealdade, virtude...É parece provinciano,
Mais é tão fundamental,
Pois sem virtude não existe verdade,
E a verdade é que a morte é para todos...
Somos finitos afinal!
E as boas lembrança é o que deixamos,
E nada é o que levamos.
E o incerto, fica certo com a fé de quem à tem,
E se falta fé, o desespero,
Toma-nos num abraço dantesco e singular,
Frio como o corpo sem vida na pedra...
E o medo faz morada em nós...
E o corpo hirto parece gritar aflito,
__Aproveite a vida, eu não posso mais!__
Por isso, eu abraço meu momento,
Como a um amante querido,
E faço amor com a vida...
Sem pudor, me entregando a suas delicias,
Inebriada por suas carícias,
Tentando sentir o que eu puder,
Quer dor, quer amor...
O máximo que puder me dar, amar...Incondicionalmente, amar,
E trago no meu peito uma prece de gratidão a meu Deus,
Pelo dom da vida!