DÚVIDA ATROZ

Dona Lua, tu que sabes do meu viver

A estar enluarado, admirando a indagar

Por te ver assim, gordalhuda e curiosa:

Existe amor, paixão, qualquer razão

Algo que justifique o meu mudar?

Pois ela, a amada, depois de tudo, apareceu

Estava a me envolver, queria me atormentar

E ficava a repetir: “Vem falar com Deus!

Sinta no coração, pois Nele está a salvação”.

Não, Dona Lua... não posso! Não por um amor

Mesmo desse tamanhão, abdicar dos meus anseios

Do meu direito, minhas vontades, meus desejos.

Seguirei o meu caminho, sozinho, a arriscar

Mesmo íngreme, acidentado, estreito e incerto

Na dúvida atroz, conforme o teu pensar

E como Arc, o marciano, a perguntar, indagando

Sempre! E nunca, nunca deixar de questionar.

Dona lua, sinto, estás a entender o meu pensar

Quando te vejo cheia, crescente, a se avolumar

Por entre o Júlio, de muitos prédios, duros e frios

Do mais puro concreto, a te esconder do meu mar

Mar de pensamentos que estão a fluir, sofridos e aflitos

E tu a deglutir, minha parceira, os meus desejos a arquivar

Cúmplice iluminante do palpitar desengonçado, descompassado

Do meu verdadeiro e flamívomo coração, a ti, indagar

Igual ao meu pensar, flamívolo, no viver atormentado

Em não acreditar em tantos deuses a nos salvar.

“Ficou louco? Sabe o que vai acontecer?

Igual a Zé da Silva, que não quis se transformar

E ficou a penar e sofrer, um tolo atordoado

Nada queria e tudo possuía

Mas só a dor lhe pertencia

Sua vida mudou

Seu mundo ruiu

O amor acabou

A distância o traiu

Era o mal o vencedor

Que até o bem, destruiu!”

Pois é Dona Lua, nem a tudo podemos comprar

Mas o que não falta é vendedor

Com promessas e oblação, a também acreditar

Naquilo que nunca estudou e nem pode decifrar.

RAbreu
Enviado por RAbreu em 11/05/2010
Código do texto: T2249682