ÓRGÃO PAR

Sei, não és tão dura, mesmo que nunca amoleças

Sinto dores, horrores, temores, rumores de ex-amores

A esconder, e ocultar, por detrás dessa capa preta

Do negro de olhos brilhantes, de nervosa meiguice

O conhecer, precoce, sofrido, a encobrir, dissimulado

Esse saber antecipado, a maltratar, dos olhos, a alma.

Sei, desarma, afasta a calma, perturba a visão, faz sentir

Deixa o cristalino impaciente, em inquieta agitação

A lutar, a quebrar a dura casca do viver fora de órbita

O órgão par a contar o teu sentir em contínua refração.

Midriático, está a vida a cavar, pela lente do olho mágico

Num olhar de fogo, às vezes frio, morno, num jogo danoso.

Num passeio de barco, a vida passa, a gente nem sente

Em letargia, com olho de vidro, vidrado, e olhar sombrio

A qual se esvai, lentamente, sem dó, em profunda agonia.

Vem, serei teu guia, me dê a mão, suba, sobra espaço

Venha aprender a viver, colher, refletir

E possuir o pouco do tudo que busco

Saia dessa inércia, siga meus passos!

Se libertar é se dar numa lente de aumento

A enxergar, o que não se conhece

Não se vê, nem se ensina os riscos

A quem não quer aprender.

Vem, gozar cada segundo a ser vivido

Na defesa contínua, sempiterno

Como se viver não fosse se entregar.

No gostar está o equilíbrio do viver

Das diferenças de cada um.

Venha ousar, lutar, vencer, arriscar

Jamais retroceder!

RAbreu
Enviado por RAbreu em 10/05/2010
Reeditado em 14/05/2010
Código do texto: T2248886