ÓRGÃO PAR
Sei, não és tão dura, mesmo que nunca amoleças
Sinto dores, horrores, temores, rumores de ex-amores
A esconder, e ocultar, por detrás dessa capa preta
Do negro de olhos brilhantes, de nervosa meiguice
O conhecer, precoce, sofrido, a encobrir, dissimulado
Esse saber antecipado, a maltratar, dos olhos, a alma.
Sei, desarma, afasta a calma, perturba a visão, faz sentir
Deixa o cristalino impaciente, em inquieta agitação
A lutar, a quebrar a dura casca do viver fora de órbita
O órgão par a contar o teu sentir em contínua refração.
Midriático, está a vida a cavar, pela lente do olho mágico
Num olhar de fogo, às vezes frio, morno, num jogo danoso.
Num passeio de barco, a vida passa, a gente nem sente
Em letargia, com olho de vidro, vidrado, e olhar sombrio
A qual se esvai, lentamente, sem dó, em profunda agonia.
Vem, serei teu guia, me dê a mão, suba, sobra espaço
Venha aprender a viver, colher, refletir
E possuir o pouco do tudo que busco
Saia dessa inércia, siga meus passos!
Se libertar é se dar numa lente de aumento
A enxergar, o que não se conhece
Não se vê, nem se ensina os riscos
A quem não quer aprender.
Vem, gozar cada segundo a ser vivido
Na defesa contínua, sempiterno
Como se viver não fosse se entregar.
No gostar está o equilíbrio do viver
Das diferenças de cada um.
Venha ousar, lutar, vencer, arriscar
Jamais retroceder!