Anatomia Poética

Todo meu corpo transpira poesia,

meus músculos e artérias,

meu pulso, meus passos...

Sou homem,

me faço,

rima e verso.

Sou papel alvo,

que banha-se de magia,

Sou fictício, sou falso,

sou belo e feio.

A verdade que engana,

a mentira que encanta,

o ar que consome.

Sou a pedra-homem,

Melado de barro.

Na tinta vivo,

renasço,

brinco,faço,

farseio.

Passeio pelas linhas ocultas

Componho e nas miragens,

Faço verso.

Abraço o dia,

escondo o verso,

Produzo o amor,

na poesia.

Sou autor e personagem,

A minha imagem,

ninguém imagina.

Sou todos do mundo,

dentro de todos os mundos,

sou pedra, poeira e serragem,

Sou mortal e eterno,

Faço o calor derreter o inverno,

Sou o frio que conduz o pensamento.

Sou o momento, o instante,

o quadro em branco na estante,

o carpete, o gato deitado na telha.

A poesia que ninguém nunca ouviu,

porque ninguém nunca cantou,

nem pensou,recitou,ou recitará,

mas que esta em todos os lugares

e em nenhum lugar.