PRIMEIRA VEZ

Somei desejo, amor, paixão, sei não!

O sinal vem mudo, inodoro, incolor

Silencioso, chega temperado com emoção

É inesperado, inadequado, mas indolor

Lesto, em teu pequenino quarto, adentrei

Pela janela entreaberta, o peitoril galguei

Destro, garreei-te, ó eterna e venerada Musa!

Tão tentador, estou a desabotoar saia e blusa

Coração descompassado, desnudei o meu desejo

Na penumbra plenilunar, foco tua silhueta nua

Teu corpo belo, coleado, espectável, antevejo

Estrelar, roseado, perfumado, prateado pela lua

Deitei-te na cama, num ritual cerimonioso

Com o olhar, corri tuas saliências, caricioso

Vidrado, mirei teu tufo, teso, forro carinegro

Suspirei vitorioso, de vitória, rubro-negro!

O sangue a correr, tresloucado, nas artérias

Valvulado, num abrir e fechar contínuo

Ventrículos a se agitarem, incessantes

Aloucados, com sínoca, em sístole, diástole

Em teu âmago, varri a língua, lânguida

Primeira vez, a sorver-te, tudo obsessão

Lépido, ágil como um coelho, certeiro

Acertei em cheio, tão secreta molhação

RAbreu
Enviado por RAbreu em 09/05/2010
Reeditado em 28/05/2012
Código do texto: T2247555