LEONÍDIA (*)
Loucas
são as mulheres
que ainda amam poetas!
Fascinante história
— a dela —
mais fantasiosa
— até —
que os delírios
— impiedosos —
do Poeta,
de onde
— como musa —
apareceu.
Loucas
são as mulheres
que ainda amam poetas!
O quarto de sua memória
não será mais achado pela luz
vinda das duas janelas longínquas
acortinadas, ao fundo do corredor.
Loucas
são as mulheres
que ainda amam os poetas!
A sanidade da sua emoção
não estará no porte de ser dama
vinda do alto da escada, esperada
como o corrimão, vindo pra jantar.
Loucas
são as mulheres
que ainda amam poetas!
Na cama, a claridade pouca
não ficará restrita à luz das velas
vinda da escuridão da noite repleta
de grilos e dos beijos pro silencio.
Loucas
são as mulheres
que ainda amam poetas!
Mas poucas serão
— das loucas que amam os poetas —
como Leonídia!
Conhecedora do platonismo
esperou a causa e o poeta
o amor sem cabeça nem pé
com parada em Curralinho
fazendo-lhe anjo da noite!
Mas as loucas ainda existem!
Loucas
são as mulheres
que ainda amam poetas!
Elas,
assim como Leonídias,
alienadas e fora do tempo
guardarão os versos
— manuscritos e memória —
em um asilo qualquer
na bagagem da loucura pouca
que calará o amor, inconsciente.
Loucas
são as mulheres
que se perdem amando poetas...
(*) Leonídia teria sido mais uma bela história de amor do poeta Castro Alves. Morreu em um asilo, em 1927, após ser internada pela família. A “louca”, até seus últimos dias, afirmava que fora a “noiva” do Poeta.