ABSOLUTA
Amada absoluta,
perdoa-me!
Gastei minha idade
com mulheres de pouca poesia.
Queria tanto me guardar
para provar os pastéis virgens
que arriscas a fritar com a massa
comprada baratinha nos supermercados.
Queria tanto me esconder
para me mostrar só o necessário
na hora em que o dormir desse vontade
de deixar os olhos enamorados em perplexidade.
Como me arrependo das noites,
onde vazio, mergulhei na chuva
mesmo que os canivetes espetassem.
Como me arrependo das noites,
quando sozinho, dobrava a esquina
na calada escura das ruas já mundanas.
Perdoa o tempo
que correu, qual um alucinado,
enquanto me desencontrava da idade
e das mulheres com cara de fim de mundo.
Perdoa as lágrimas
que escorreram, sem noção de dor,
enquanto a fonte dos olhos-de-chorar
ficaram secas de água, baldes e roldanas.
Perdoa, amada única,
se fui um gastador de mim;
enquanto teus hormônios, em festa
e indefesos, te provocaram masturbação.
Perdoa-me mesmo tardio, amada de noite longa,
não deixe a madrugada se levantar para ouvir
a confissão dita, quieta, ao teu pé do ouvido:
és a única mulher com quem deitei
absoluto, sublime, natural.