O CAMINHO DAS PEDRAS

Invisível, diante de mim,

havia uma pedra imensa que

quase me arrancou o tampo do dedo.

Não consegui nem driblar os versos do Drummond!

Não fiquei indiferente,

e nem poderia ficar,

já que o sangue avermelhava o chão

enquanto impropérios saiam, impunemente, pela boca.

Sua forma era de pedra,

mas sua consistência, não!

Seu sentido exato por ali estar,

provocou-me reações

perfeitamente humanas.

De tanta raiva,

por tamanha distração,

deu-me vontade de chuta-la para longe

e, masoquistamente, aumentar minha dor.

Mas, ao sentir-lhe tão imprevisível,

cheguei a desconfiar da disposição

das pedras soltas pela terra

- apesar de sua forma em existência -

e dela ouvi um rumor sólido do destino

seco, choramingado pelo desatino

de ter-me provocado humano e imperfeito

ao condoer-me, egoísta, esvaindo sangue.

Apaixonei-me!

Quis, naquele momento,

ser pedra apesar de desumano.

Apaixonada,

ela, a pedra, apesar da consistência,

tentou tomar a forma das imperfeições.