DELÍRIO
Já que não tenho asas
deixem-me ao menos trepar
pendurar-me naquela escada de corda
presa ao topo do grande circo azul
lá bem em cima onde nasce o infinito
e as andorinhas pousam num galho de nuvem.
É de lá que elas piscam os olhos à Lua
de madrugada
e se riem dos helicópteros
dos aviões
e das naves espaciais
pois são artifícios caricatos
feitos por braços desasados
impotentes para voar.
Mas eu só quero trepar
vestido de arlequim
ser trapezista talvez...
Lá no zénite
no epicentro da abóbada
no tal galho de nuvem
hei-de ter um lugar.