Espinhos: os caminhos da dor
Espinhos: os caminhos da dor
Olho lá fora para os espinhos do mundo.
Vejo tanto sangue, tanta dor, tanta gente jogada fora.
Vidas murcham diariamente e assim como rosas são sumariamente esmagadas.
Vejo a alegria de poucos em detrimento da dor de muitos.
O sangue da maioria alimenta o luxo e a felicidade de poucos privilegiados.
O dinheiro compra tudo: luxo, comodidade, compra até a justiça; só não compra o verdadeiro caráter.
Eis que os espinhos que me consomem são os espinhos da injustiça.
Eu procuro os espinhos do mundo.
Eu olho para os espinhos do mundo, mas não me esqueço de olhar os espinhos que tenho dentro de mim.
Corta, a minha dor corta a alma como um espinho.
Eu sou fruto dessa injustiça desvairada, dessa tristeza sempre constante e desse sofrimento sempre presente.
Sou como um pássaro sem asas olhando no horizonte os outros pássaros voarem.
Sou sangue pulsando na ferida aberta, ferida aberta pela dor do mundo.
Dor que é do outro mas também minha.
Eu sou assim, um abismo na escuridão fria da solidão diária.
Então para que olhar os espinhos lá fora se eu mesmo já tenho tantos dentro de mim?
Eu olho os espinhos dos outros para enxergar neles minha própria dor.
E olho meus próprios espinhos tentando reconhecer neles a dor dos outros.
Pois eis que não é a alegria que nós faz iguais, mas a dor.
Olho então lá fora para a dor do outro, tentando reconhecer nela minha própria e cotidiana dor.
Marcos Welber Fernandes