ELOGIA E GOSTA
Como sempre, elogia e gosta.
Ela deve saber que é pra ela?
Analiso a olhar seu rosto estático,
recongelado nas estrofes que leu.
Devia dar um curto circuito,
mas é um sistema perfeito...
Alguém que se nutre da beleza
que a sua beleza produziu!
É como uma chama que corre
e reconstrói o pavio...
um rio que deságua em si mesmo.
Sinto algum poder nas mãos
ao determinar: ‘ela não deve saber’
Velha alegoria de Platão,
ela permanece na escuridão;
por alguém que não a deixa ver.
No entanto tudo é sensação,
e o não saber parece não prender
quando o assunto é poesia...
Se não tivesse o que esconder,
jamais o poetinha escreveria...
Tudo em mim é sensação e amor.
Enquanto sensação é tudo que há,
amar é transpassá-lo e doar-se.
Do ar se fazer concreto ao alheio.
O amor é sensação, mas estendida:
estendida ao espírito vizinho;
àquilo que de etéreo significante
não significa o que lhe pertence.
Aquilo que está fácil ao alcance
de quem nega a si por um instante.