MEU PROTESTO
 
Apaga esta brasa, acende a vida!
Quando para ti olho, querida,
E te vejo atrás desta fumaça criminosa
Que te faz apertar estes lindos olhos;
Quando sinto que teu hálito gostoso
Traz, agora, o cheiro fétido da nicotina,
Juro, sinto pena de ti, menina.
E é por isso que não desisto e grito:
 
Apaga esta brasa, acende a vida!
E como ficas feia, a face abatida,
E vens cheirando a cinzeiro,
A boca, as mãos, o corpo inteiro.
Pudera proibir tua autodestruição!
Bem que faria, mesmo correndo
O risco de perder tua amizade.
E é por isso que não desisto e grito:
 
Apaga esta brasa, acenda a vida!
Sei que não gostas, mas não me intimidas.
Tu podes achar este protesto primário
Mas não me respeitas e quase sempre
Me fazes um fumante involuntário.
E é por isso que não desisto e grito:
Apaga esta brasa, acende a vida!
 
Salvador (BA), 7/5/1988
 
NOVAIS NETO. Flutuando na Areia. Salvador: NN, 1988, p. 52, 112p.