Pomba da Noite
As pombas ciscam nas praças
Nesse domingo cinza
Cinza como essas pombas
Cinza como minha vida hoje
E me trazem o gosto, agora amargo,
Daquela que um dia foi doce
A pomba mais bela
Dos olhos que encantam e iludem
Que confundem os sábios
E embriagam os doutores da lei
A dama de vermelho
Que baila na vida dos desgraçados,
Dos velhos e dos casados
Que faz das vidas tristes um alegre querer viver
E depois, um amargo morrer
Ela engana, sorri e fere
Em carne e essência
Cigarros e movimentos ao som dos tamborins
Seus panos colorem o escuro do salão
E as fantasias dos imbecis,
Que como eu, vivem e apenas isso,
Vivem, pagam e sonham
Até o dia amanhecer
Até as pombas descerem às praças
Em busca de farelos,
E a morte descer à terra,
Em busca de almas velhas e cansadas
E ela bebe... E ela ri
E ela dança,
E ela dança, ali...