ACORDAR NA CIDADE
Os cachorros ladram
Um aqui outro aculá
Eu na cama a bocejar
E o mais triste: levantar...
De seu urdir maquinário
O despertador a se ocupar
Sobre o criado ou em cima do armário
Neste ultimo prefiro eu pra ter que levantar
E o sono não mais me roubar
Água fria a esfriar meu rosto
É desgosto mas é remédio
Desperto novamente pra vida
Arregalo os olhos, encaro o tédio
Fogão aberto, canecão, açúcar e pó
O café cheira longe vejam só
A mesa acolhe, pão manteiga e leite
Tudo pronto pro desjejum
Oração num pensamento de que tudo vai ser bom
Deus ajuda quem cedo madruga
E a confiança no Pai
Fortalece quem vai seguir a vida igualzinha sempre
Beijo bom dia na esposa
Abro a porta e o frescor da matina
Às vezes cinza, às vezes cinza
O verde que me chega é das propagandas
De supermercado e outras quitandas
As cadelas me acenam com o rabo
E engraçado seu único interesse
É um afago
Um lambe-lambe sem fotos
O jardim também me acena
Balanço as mãos e vejo as pequenas
Florzinhas de açucena a sorrirem pra mim
Desconfiado olho se ninguém me vê nesta fantasia de sei lá o que
E nesta construção cotidiana de todas as manhãs
Chego ao portão pra tomar a condução
E deixar o meu lar
Pra ganhar o mundo lá onde a mãe não me ouve...