A Tampa do Mundo

Descampe os cabelos,

seja calvo, seja calmo,

destampe o mundo,

entorne a água,

entorne a mágoa.

Acampe no pico do lamento,

seja alpinista, seja pianista,

do concerto humano.

Conserte o desumano,

bata um prego,

aperte uma rosca,

torne baeta uma rosa,

torne cinzento um jumento.

E quando o mato amarelar,

e estalar em fogo,

e quando a ansiedade fugir,

pelas trincas dos dentes,

e quando o derradeiro abraço,

desajustar do amor o laço...

Não resista!

Cale as palavras da revista,

suba a rampa da fuga,

guarde a camisa dentro da calça,

dê um grito, um silêncio,

puxe com as mãos as alças de ferro,

saia e feche a tampa do mundo.

Dado Corrêa
Enviado por Dado Corrêa em 01/05/2010
Reeditado em 01/05/2010
Código do texto: T2230238
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