SÉCULOS
Euna Britto de Oliveira
Site de Poesia: www.euna.com.br
Quero passear nos séculos.
Quero ter pernas e compasso para caminhar no tempo.
Encontrar Albeniz e dizer-lhe:
— Eu te quero bem.
Amo a música espanhola,
Tocas piano como ninguém!
Mas ainda não és o homem que eu amo.
O homem que eu amo
Está no século XX.
E nem tocar piano ele sabe;
Nem piano ele tem.
Mas eu o amo como a ninguém!
Deixei-o lá, agorinha mesmo!
Só vim aqui dar uma voltinha,
No século em que viveste...
Parece que foi ontem que Shubert viveu.
Ainda escuto a sua música.
Ouço os acordes da Serenata!...
Em vez de esbravejar,
Chopin compõe sua Polonaise!...
Mozart, Beethoven, Bach...
Passear nos séculos...
Quero entrar e estar numa sala antiga,
Com mobília antiga,
Onde eu possa me assentar
E aquecer-me junto a uma lareira!...
Não é de hoje esse meu gosto
Por partituras de piano,
Santinhos,
Essas coisas gráficas...
E doces.
A vida é mesmo telegráfica.
Morrerei um dia.
Quando?
Nem de leve eu sei.
Anos como 1600, 1700, 1800, 1909...
Ai, como são sugestivos!...
São séculos repletos de pessoas e acontecimentos!!!...
Quem nasceu junto comigo,
No mesmo ano que eu?
E coincidentemente partirá comigo, quem?
Essas pinturas que acabo de examinar...
Ah, tintas velhas e novas!
Esses retratos são provas?
E as pessoas de verdade,
Onde estão?
Onde estarão?...
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Informação oportuna: Isaac ALBÉNIZ (1860-1909)
Pianista e compositor espanhol. Menino prodígio, Isaac Albeniz apresentou-se como pianista desde a mais tenra infância; deu o seu primeiro concerto com a idade de quatro anos. Isaac Albeniz sai de casa com treze anos de idade e consegue lugares de pianista itinerante na América Latina. No início dos anos 80 (séc. XIX), um importante encontro com o musicólogo Felipe Pedrell, que faz uma recolha de canções tradicionais, leva Isaac Albeniz a apaixonar-se pela música nacional espanhola.