Vovô
Estará claro, porém frio e calmo
Como uma tarde para se beber chá
Junto aos filhos, à correria de netos
Tendo da felicidade um brevê, um alvará.
Sobre tapetes, passos curtos e lentos
Como alguém que já pisou em pregos
Atenuarei brando em conversas longas
Sabendo o caminho seguro dos cegos.
Naquela tarde poderá me tratar por vovô
Naquele futuro, que na curva parece longe
Como parece ser a próxima meia noite
Estarei alheio à morte, um quase monge.
Próximo da vida, próximo do tempo e do ócio
Estarei reverenciando as noites, vendo luas
De segunda à sexta, abrindo um túnel na memória
Acendendo a luz de ontem, das cenas nuas.
Não me peça as horas, não me peça a pressa
Venha disposto a beber minhas histórias
A derrubar meus muros intocáveis, a ser aliado
A fraudar as derrotas do passado em vitórias.
Estará claro, porém frio e calmo
Como um túmulo, mármore, cera e vela
Jornal de ontem misturado aos do dia
Notícias imortais numa página amarela.
Naquele futuro, poderá me tratar de vovô...