Vovô

Estará claro, porém frio e calmo

Como uma tarde para se beber chá

Junto aos filhos, à correria de netos

Tendo da felicidade um brevê, um alvará.

Sobre tapetes, passos curtos e lentos

Como alguém que já pisou em pregos

Atenuarei brando em conversas longas

Sabendo o caminho seguro dos cegos.

Naquela tarde poderá me tratar por vovô

Naquele futuro, que na curva parece longe

Como parece ser a próxima meia noite

Estarei alheio à morte, um quase monge.

Próximo da vida, próximo do tempo e do ócio

Estarei reverenciando as noites, vendo luas

De segunda à sexta, abrindo um túnel na memória

Acendendo a luz de ontem, das cenas nuas.

Não me peça as horas, não me peça a pressa

Venha disposto a beber minhas histórias

A derrubar meus muros intocáveis, a ser aliado

A fraudar as derrotas do passado em vitórias.

Estará claro, porém frio e calmo

Como um túmulo, mármore, cera e vela

Jornal de ontem misturado aos do dia

Notícias imortais numa página amarela.

Naquele futuro, poderá me tratar de vovô...

Dado Corrêa
Enviado por Dado Corrêa em 30/04/2010
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