Ponto de Ônibus
Passei um grande tempo esperando
Malditas e improdutivas horas
Que hoje compõem o lote da saudade
Andei pelos caminhos possíveis
Alguns impossíveis, sonhei com eles
Rasguei peles, entrei em túneis escuros
Ofendi os olhos com o clarão do sol
Estive em desertos e em oásis verdes
Meu Deus! Como está o meu balanço?
Adiantou a fúria se a maré abaixou?
Adiantou tampar os meus medos
Apenas com a seda ou com os dedos?
Passei sim, um grande tempo esperando
Barcas, aviões, ônibus, taxis e caronas
Esperando o enredo da minha vida
Esperando manhãs virarem tardes
E depois noites, semanas, meses e enganos
Esperei pela mulher e pelos filhos,
Pelo salário em gotas, pelos diplomas
Esperei pelo frio do medo, pelos velórios
Como está hoje, meu Deus, minha contabilidade?