O Escritor
Preciso de calor para escrever
Ter o sol por dentro do corpo
Um forno a transformar a química
Uma têmpera, uma flama a aquecer
Preciso de calma para escrever
Como um rato após a perseguição
Preciso dos dedos do cego
Nas cordas do violão, do som da arpa
Da velocidade da flecha do arpão
Preciso da figura de pedra na praça
Da miséria só e torpe desta raça
Preciso da fome que não entoou meus sonhos
Preciso do cisne negro e do lago azul
Para escrever eu preciso do norte e do sul
Quero o fogo da inspiração louca
Queimando a neurose fértil da inconsequência
Quero nudez e decência, prostíbulos e conventos
A incoerência da lógica em braseiros líricos
Para escrever eu preciso de uma comida leve
Nascida do chão ou do mar, cobra, sal ou vulcão
Eu preciso da paz, do Irã ou de um Vietnã
De rosas vermelhas, de um Halls de hortelã
Eu preciso de um tempo muito pequeno
A confusão, a convulsão e o veneno
Em seguida palavras, dor e eu sereno