O Escritor

Preciso de calor para escrever

Ter o sol por dentro do corpo

Um forno a transformar a química

Uma têmpera, uma flama a aquecer

Preciso de calma para escrever

Como um rato após a perseguição

Preciso dos dedos do cego

Nas cordas do violão, do som da arpa

Da velocidade da flecha do arpão

Preciso da figura de pedra na praça

Da miséria só e torpe desta raça

Preciso da fome que não entoou meus sonhos

Preciso do cisne negro e do lago azul

Para escrever eu preciso do norte e do sul

Quero o fogo da inspiração louca

Queimando a neurose fértil da inconsequência

Quero nudez e decência, prostíbulos e conventos

A incoerência da lógica em braseiros líricos

Para escrever eu preciso de uma comida leve

Nascida do chão ou do mar, cobra, sal ou vulcão

Eu preciso da paz, do Irã ou de um Vietnã

De rosas vermelhas, de um Halls de hortelã

Eu preciso de um tempo muito pequeno

A confusão, a convulsão e o veneno

Em seguida palavras, dor e eu sereno

Dado Corrêa
Enviado por Dado Corrêa em 29/04/2010
Reeditado em 06/01/2017
Código do texto: T2226630
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