Inato
Disseram-me que o poeta já o nasce,
Por ter sabido como é a falta sem a possuir,
Por ter perdido o encontro já na despedida,
Por ter cheirado a flor ainda não florescida.
Eu creio nas palavras libertas antes de escritas.
Disseram-me que o poeta já o nasce,
Como brota da terra a água transparente,
Como desbota o céu ao cinza-tempestade,
Como as letras desprendem o todo da metade,
Eu creio nas paridas mortas antes de vivas.
Disseram-me que o poeta já o nasce,
Mas, que coração se preenche ainda no projeto,
Mas, que objeto se arranha sem o trajeto,
Mas, que silêncio se faz sem se ter gritado.
Eu creio, poeta já nasce pronto, porém matado!