VIAGEM DOS SENTIDOS...

Meu peito como se ungido,

trêfego, e o olhar ferido

na busca de outro com dó.

Nó desse elo partido

que me faz caminhar só.

Quero o jeito do ser ingente,

o corpo sintonia da mente,

mas nada vem sem dor.

Um beijo a saliva sente.

Um abraço já fica melhor.

Parto sem medo, indene,

pois nada é mesmo perene

nessa estadia passageira.

Ente do mar, sigo o leme

sobre a onda derradeira.

Meu pranto logo escorre,

face em que o riso morre

no ir e vir da maré.

Absorto, meio de porre,

percebo o que o mundo é.

Volto à boca e aos braços,

desenho todos os traços

dessa singular viagem.

Os vestígios dos abraços

renovam minha coragem.

Os ventos dizem meu rumo,

e não há qualquer aprumo

que me pare ou me prenda.

Canção, gole e fumo

e logo escapo pela fenda...

Trago sons dissonantes

e a sede dos amantes

que navegam sem parada.

Os amores são constantes.

A palavra é versejada.

Tão junto e tão sozinho,

tanta rosa e tanto espinho

presentes sem nenhum zelo.

A surpresa pelo caminho.

A alegria e o desmantelo.

Passo tensas tempestades

e sofro com as vaidades

que maculam a vivência.

No trânsito das idades

exercito a paciência.

Pouco fica e tudo passa:

um dengo que se faça;

uma saudade que insiste.

E o coração só disfarça

o desejo que já é triste.

Assim vagueio pelos mares,

navegando os meus estares

sem controle, nem calmaria.

Perco-me com os olhares

que suscitam a poesia.

Roberto Dantas

Maio/06

betodantas
Enviado por betodantas em 28/04/2010
Código do texto: T2225523
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.