A Veste Escarlate
À noite, ei-la de olho fadigado
O semblante amargo e delgado
Em teu silêncio nasce o meu inebriar
Rastejo-me ao teu doce dom de ludibriar
Dantes a melancolia vivia em agonia
Outrora gritava ao fundo como nênia
Ausentando-me desta única e falsa prece:
Açoite-me como algo infindável e fatal
Cante a morte em meu nome e que se apresse
Sou um de teus filhos, lutuoso e sepulcral
Um demônio sonha com uma sombra acessa
A espreita de outrem que por ventura apareça
Se este cai em teu próprio passo, perdeu-se
E se não veio advir, em teu ínfimo ofereceu-se
E da dor, sentido obteve sem que a fé fosse-lhe degustada
No espectro o vento acarretou a alma atada
A luz fez-se pífia e a sombra tudo vergastara
As flores morreram em um tilintar solene e crua
Da morte nasceu o grito que lhe matara
O jardim veeiro dissipa-se ao pensamento que flutua
Tua veste escarlate vem-me salvar ou crucificar?
Se da dor terei dor, então irei para sempre ficar
Tua promessa é real e esclarece-me sem devaneie
Ainda que dantes do corte minha pele se anseie
Dilapida-me muito devagar, sou de tudo homem
E minha dor lastima este pesar, diz-me: amém
Perco-me dentro do cerne e encontro-me lá
Diante do vale a cálida saliva secará
Visto que para aonde irei, não há ali ou acolá
A voz pouco importa e um dia não mais reclamará