A Veste Escarlate

À noite, ei-la de olho fadigado

O semblante amargo e delgado

Em teu silêncio nasce o meu inebriar

Rastejo-me ao teu doce dom de ludibriar

Dantes a melancolia vivia em agonia

Outrora gritava ao fundo como nênia

Ausentando-me desta única e falsa prece:

Açoite-me como algo infindável e fatal

Cante a morte em meu nome e que se apresse

Sou um de teus filhos, lutuoso e sepulcral

Um demônio sonha com uma sombra acessa

A espreita de outrem que por ventura apareça

Se este cai em teu próprio passo, perdeu-se

E se não veio advir, em teu ínfimo ofereceu-se

E da dor, sentido obteve sem que a fé fosse-lhe degustada

No espectro o vento acarretou a alma atada

A luz fez-se pífia e a sombra tudo vergastara

As flores morreram em um tilintar solene e crua

Da morte nasceu o grito que lhe matara

O jardim veeiro dissipa-se ao pensamento que flutua

Tua veste escarlate vem-me salvar ou crucificar?

Se da dor terei dor, então irei para sempre ficar

Tua promessa é real e esclarece-me sem devaneie

Ainda que dantes do corte minha pele se anseie

Dilapida-me muito devagar, sou de tudo homem

E minha dor lastima este pesar, diz-me: amém

Perco-me dentro do cerne e encontro-me lá

Diante do vale a cálida saliva secará

Visto que para aonde irei, não há ali ou acolá

A voz pouco importa e um dia não mais reclamará

Diego Martins
Enviado por Diego Martins em 28/04/2010
Código do texto: T2225494
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