Valentina
Ei-la retoricamente, olhando-a como quem se perdera,
Contudo sabe que há clausura e fingi a muito esquecera.
Busca adentro do abismo sem fundo encontra-se,
Como quem não almeja jamais se recordar e ver-se.
Enterrou-se em uma terra intensa e não sabe donde,
Cavas-te sozinha e escondes-te a morte muito longe.
Arrasta-se em meio ao anoitecer e traz consigo o reaver.
A vingança tarda e que todos não rememoram,
A queda de uma vida que planeja a muito reviver,
A dor eterna promete a aqueles que a mataram.
Dantes a beijava entre as promessas e as palavras,
E entregou-a de bom grado aos vermes que amparas.
Abstém-se das memórias boas e foca-se na dor,
Caminha com fúria e vergasta tudo com ardor.
Nada lhe importa somente vingar-se de seu amado,
Que pensou como toda a certeza ter-lhe matado.
O caminhar próximo pode ser ouvido,
Valentina como sua pá feliz se resguarda,
Com a pá nas costas abate-o, é desmaiado.
O amado rindo e blasonando sem saber aguarda,
O instrumento largo e chato, com rebordos laterais,
Serve-lhe para cavar o solo a sete palmos magistrais.
E quanto ele retorna buraco adentro a lucidez,
Suplica-lhe o perdão e quer sair dali com avidez.
Implora-lhe que não o faça e diz que se arrepende,
Chora e se perde em sua lágrima cálida e corrente.
A terra começa a lhe recobrir vagarosamente delicado,
Mais e mais, até o topo, e ainda é possível escutar,
Antes do último monte de terra um verso lhe é citado:
Acalma-te estás perdoado e sempre irei lhe odiar.