Epifânia
Cresci e aprendi que no escuro, vê-se mais do que quando às claras.
Cresci angariando dádivas e valorizando mimos impalpáveis.
Colorindo ainda mais minhas vestes, numa disprepância pueril, tornei-me fashion.
Cresci e vi que dentro das limitações, posso ser a melhor, mesmo no anominato das cores e linhas.
Cresci e parei de dar ouvidos a opiniões contrárias ao que vejo no espelho.
Cresci e descobri que melhor mesmo é dividir o doce, e ter com quem xingar o acre comigo...
Cresci, afinei os ouvidos e sigo dançando, no ritmo da vida, aos diferentes sons dos dias.
Cresci e vi que não minto, apenas mudo a realidade ao meu bel prazer.
Cresci e constatei que pior que extraterrestre, só mesmo a humanidade.
Cresci, aprendendo que na preguiça da cama também aproveito o tempo.
Cresci e descobri que as letras tem poder de causar viagens visuais surreais e que completam as figuras.
Cresci vendo a miséria, a discórdia, a fome, peste, atrocidades sem fim, ainda que me acompanhando a degradação, pus o mundo aos meus pés, tornando-me maior e melhor que ele!
Por onde anda aquela criança...
A criança cresceu. Guardada com sua inocência arrogante, saltitante com sua felicidade auto-suficiente, não deixei abalar a menina que fui, conservei-a protegida.
Cresci e vi que meu mundo infantil, coloridamente idealizado, podia tornar-se adulto na simplicidade do preto no branco, mais por causa da criança que carrego dentro de mim, mesmo que acuada pelas imperfeições, não deixei isso acontecer...