O PESCADOR DE PÉROLAS

Náufraga de amor

aceno o meu lenço branco

grito mensagens em garrafas sem rótulo

que espalho por este mar que me rodeia...

Vidros translúcidos para o meu desejo

opacos para os navegantes da materialidade

E vou enfraquecendo nesta ilha solitária

morrendo à míngua na esperança de um milagre

que me arranque das mãos o desfiado lenço branco

puído de lágrimas e de esperas

Ao largo vão passando os navegantes

exibindo suas bolsas carregadas de moedas

gulosos de sexo e concupiscência

julgando salvar-me com oiro e noites de lascívia

Num misto de lágrimas e gargalhadas

escondo entre as folhas secas de palmeira

a já esfarrapada bandeira do meu S.O.S. de pureza idealista

para que eles pensem que fui miragem

e não queiram salvar-me deste amargo-doce exílio

arrastando-me para a terra da materialidade

Antes morrer virgem de jóias e luxúria

esperando, utópica

o velho pescador de pérolas, nu, de mãos vazias

que há-de achar-me enterrada nas areias do sonho

e que... ébrio de espanto

abrirá a minha concha imune à erosão das marés

Para essa preciosa dádiva de Neptuno

me desnudarei de dogmas e tabus

e serei mente e serei corpo e serei alma

exalando odores a nenúfar e canela

na certeza de ser a sua busca iluminada

o tesouro

que levará nos braços para a terra prometida…

(In "Memorando de Fogo")

Carmo Vasconcelos
Enviado por Carmo Vasconcelos em 05/06/2005
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