O PESCADOR DE PÉROLAS
Náufraga de amor
aceno o meu lenço branco
grito mensagens em garrafas sem rótulo
que espalho por este mar que me rodeia...
Vidros translúcidos para o meu desejo
opacos para os navegantes da materialidade
E vou enfraquecendo nesta ilha solitária
morrendo à míngua na esperança de um milagre
que me arranque das mãos o desfiado lenço branco
puído de lágrimas e de esperas
Ao largo vão passando os navegantes
exibindo suas bolsas carregadas de moedas
gulosos de sexo e concupiscência
julgando salvar-me com oiro e noites de lascívia
Num misto de lágrimas e gargalhadas
escondo entre as folhas secas de palmeira
a já esfarrapada bandeira do meu S.O.S. de pureza idealista
para que eles pensem que fui miragem
e não queiram salvar-me deste amargo-doce exílio
arrastando-me para a terra da materialidade
Antes morrer virgem de jóias e luxúria
esperando, utópica
o velho pescador de pérolas, nu, de mãos vazias
que há-de achar-me enterrada nas areias do sonho
e que... ébrio de espanto
abrirá a minha concha imune à erosão das marés
Para essa preciosa dádiva de Neptuno
me desnudarei de dogmas e tabus
e serei mente e serei corpo e serei alma
exalando odores a nenúfar e canela
na certeza de ser a sua busca iluminada
o tesouro
que levará nos braços para a terra prometida…
(In "Memorando de Fogo")