BOLERO

A melodia alça aos poucos

De mágicos instrumentos

A angústia esdrúxula parte

E vem a paz por momentos

Ao som dos metais e do tarol.

Sinto-me com um funâmbulo

Equilibrando corpo e alma

Num fio sonâmbulo.

E a música cresce, cresce...

A genialidade é seu estofo,

A magia, a pureza e a beleza

Remetem à grandeza

Da alma compositora.

E me vem a delicadeza, a leveza...

A alma em reverência, silenciosa,

Sente os acordes da melodia

Como benção, como prece amorosa.

O quarto deixa de ser monocromático,

A tristeza não é mais açoite

Nem o coração sino gótico

Badalando à meia-noite.

Gênio, gênio esse Ravel...

Uniu-se a minha essência,

Fez de minha pele partitura de papel

Rabiscando colcheias e semicolcheias

E como se soubesse o que eu quero:

Impregnou-me com seu mavioso bolero.

25/04/10