FUNÂMBULO
Impossível viver
sem passar pela morte.
Precisar de morrer
para voltar à vida.
Ficar sozinho no arame
sobre abismos sem fundo.
Fazer da fantasia um jogo
e alimentar-se dela.
Olhar-se nos espelhos
dum circo já vazio
como um túmulo.
E sofrer
sorver o cálix
dum veneno amargo e letal.
Atravessar o túnel
tenebroso
à procura de si.
Hibernar
até que finda a letargia
um dia
se liberte de ti voando
uma gaivota rumo ao infinito.