Misantropoesia
Um papel de bala
entupiu um Bueiro,
depois culparam a chuva
que alagou por inteiro.
Partidos em campanha
falam de educação.
E os professores pedem
Prozac e proteção.
Numa chuva de balas
um tiro é sempre certeiro,
seja na touca ou farda
o tom da mancha é vermelho.
Bandidos de gravata
prometem a segurança.
Só mais uma bravata
ao cidadão sem esperança.
As pessoas procriam,
pois está dito na bíblia.
Depois cobram o Estado
de manter suas famílias.
A família é tudo!
Disse um cara de chapéu e vestido.
Ação e o discurso
juntos ganham sentido.
Os intelectuais continuam
nos bancos das academias
usando novas palavras
para velhas endemias.
O poeta se cala
diante tanta torpeza.
Discursar às pedras
Só aumenta a tristeza.
Os papeis de bala
guarde-os na lixeira.
Não sejas o culpado
Por toda essa sujeira.
Se não fosse um beijo
seria tudo agonia.
Em quadras singelas escrevo
Esta misantropoesia.