Noites de abril
 
 
Como uma deusa ela chega, a lua,
E olha matreira lá do céu, a vida,
Pois em sua incompreensível sabedoria
Sente que sua dourada presença
Torna tudo melhor e mais bonito.
E ela reina no céu azul quase negro,
Nos mares que se espalham pelo mundo,
Beija as águas que correm pelas veias
Dessa Terra infinitamente linda.
E nos campos verdejantes e nas florestas
Tudo o que vive, que respira e que se anima
Sai do seu esconderijo noturno
Para reverenciar a deusa do amor e do lirismo.
 
 
E mesmo nas florestas iluminadas de concreto
Tudo se torna esmaecido e pálido
Frente a sua doce luminosidade.
E os homens encantados, olhos para o alto
Admiram a morada jorgiana
Construída pelo maior dos arquitetos.
Ah, a magia e o mistério que resvalam
Dessas noites enluaradas de abril
Atingem fundo o coração dos seres
Que conseguem ensimesmar-se a sua vista.
Não importa o fardo que carreguem
Por um momento tudo se torna leve
E a mochila que levamos  em nosso dorso
Mais parece de algodão doce que de pedras.
 
E os homens e as mulheres que retornam
De seus trabalhos do dia já passado
Percorrem, como pássaros recém libertos,
Os caminhos que os conduzem para o amor.
E mesmo aqueles que rastejam pela vida
Levantando os seus olhares para o céu
Se enchem de esperança frente a beleza
E voltam a acreditar em noites de milagres.
 
Dá vontade, ah, se dá, uma vontade louca
De antigos amores resgatar
E debruçar-se na janela, os dois juntos
Olhando o céu, olhando a rua, olhando a vida
Que poderia ter sido, mas não foi
Por falta de um luar em certas noites,
Por falta de poesia no dia a dia.
 
Se vale a pena viver é nessas noites
Em que a lua caminha pelo céu
Seguida por seu séquito estelar
Durante o mês de abril, nesse hemisfério
Onde a vida é bela, mas tão difícil
Porque existem homens cabisbaixos
Que nunca ousaram levantar seus olhos baços
Em direção ao céu de abril e novos sonhos criar.
21/04/2010