Das certezas poucas
Seguramente, volverá a alvorada
Se não logo amanhã, em um outro dia,
E o céu se avivará de rubra tinta
Borrada pela brisa matutina.
As nuvens baterão em retirada,
E estrelas em um desabrochar sincero
- de flores a piscar na primavera -
Pontilharão em prata o vermelho
Feito esquírolas ardendo em brasas
Ou pirilampos queimando-te a face
Sentando-te, ditosos, nas bochechas
Seguramente, um barco bem minúsculo
A transportar segredos entre as margens,
Há-de cruzar o sol ante o crepúsculo,
E as aves a planar em um desatino,
Acalentando as penas empapadas,
Nesse momento assobiarão alto,
Canções que suas mamães lhes sussurraram,
E, então, mergulharão juntas no mar,
Como a se preparar para a invernada
Seguramente, um uivo pernoitado,
De lobos e predadores insones,
Anunciará o fim da madrugada,
E o florescer sutil das calmarias,
E o renascer das plantações de almas.
Seguramente, isso, e mais nada.